Em novembro de 2024, a Stellantis, dona da Ram, aposentou de vez o motor 2.0 turbodiesel de 170 cv e 38,8 kgfm de torque, que equipava vários modelos do grupo desde 2015, começado pelo Jeep Renegade. Propulsor esse, que não recebia atualizações há quase dez anos, e não acompanhava o mercado. No fim do ano passado, a Stellantis substituiu esse motor pelo novo 2.2 turbodiesel, mais moderno, potente e ágil. A Ram Rampage foi o primeiro modelo a receber a novidade, já que era o veículo mais recente da marca a usar o antigo 2.0 turbodiesel.
O VRUM testou a versão topo de linha a diesel da Rampage 2025, a Laramie, que custa R$ 278.990. Todas as versões a diesel da picape (Big Horn, Rebel e Laramie) agora vêm com o novo motor 2.2 turbodiesel, que faz parte da família Patrola Serra – diferente do 2.2 BlueHDi da Fiat Titano, que tem origem PSA.
Esse mesmo motor 2.2 já equipa outros modelos da Stellantis no Brasil, como Fiat Toro e Jeep Commander, enquanto as versões a gasolina da Rampage seguem com o motor Hurricane 2.0 turbo de 272 cv e 40,8 kgfm, que continua sendo a opção mais potente.
A mudança no motor faz sentido, já que a Rampage tem um público fiel entre os fãs de picapes a diesel, mesmo com a queda nas vendas desse tipo de combustível no Brasil. Nos últimos anos, os carros a diesel perderam espaço por causa do preço alto do litro do óleo, que subiu mais de 40% desde 2020, segundo a Agência Nacional do Petróleo (ANP).
Além disso, os motores a gasolina e os híbridos ficaram mais eficientes, reduzindo a vantagem de consumo que o diesel tinha no passado. Outro fator é a maior preocupação com emissões: o diesel emite mais poluentes como NOx, e as normas de emissões no Brasil, como o Proconve L8, que entrou em vigor em 2025, exigem tecnologias mais caras para reduzir esses poluentes, o que encarece os carros a diesel.
Mesmo assim, o diesel ainda tem vantagens para quem busca uma picape como a Rampage. O maior torque em baixas rotações, nesse caso são 45,9 kgfm a apenas 1.500 rpm, ótimo no caso, por exemplo para carregar peso ou rebocar cargas pesadas, já que a Rampage tem capacidade de carga de 1.015 kg e pode carregar reboque até 400 kg. Isso é uma vantagem em relação aos motores a gasolina grandes, que geralmente precisam de rotações mais altas para entregar força.
O novo motor 2.2 turbodiesel da Rampage Laramie chegou na hora certa. Os antigos 2.0 Multijet já não davam muita mais conta, mas agora, com 200 cv a 3.500 rpm e 45,9 kgfm de torque, são 30 cv e 7,1 kgfm a mais que fazem diferença quando o pé pede potência. Casado ao câmbio automático de nove marchas com conversor de torque, ele entrega força sem esforço, especialmente em situações que exigem mais do motor.
Na estrada, a Rampage 2.2 mostrou o que vale: retomadas seguras e ágeis, com o torque em baixa rotação respondendo na hora certa. O câmbio de nove marchas acompanha o ritmo sem engasgos, e a saída da picape ganhou vida. Os engenheiros mexeram na relação do diferencial, deixando-a 14% mais longa, o que suaviza as trocas e os giros ficam mais baixos e ajuda no consumo e o motor “grita” menos em velocidades mais altas, ganhando também no silêncio.
Na velocidade de cruzeiro, a Rampage 2.2 vai bem, com uma condução suave e prazerosa, com a firmeza do monobloco. Já em velocidades mais altas, é perceptível a caçamba tendo leves oscilações, mas nada que atrapalhe.
Não dá pra dizer que o 2.0 turbo diesel era ruim, mas faltava força para uma picape de 1.951 kg — e isso era nítido. O 2.2 resolveu isso na estrada e também na cidade: a resposta é mais vigorosa, com trocas de marcha em rotações sempre altas, que esticam para garantir potência. O câmbio alonga as passagens, mas no cenário urbano permanece com uma condução macia e confortável, com bom ajuste do peso do volante com assistência elétrica progressiva.
A diferença nítida de potência aparece nas retomadas e no 0 a 100 km/h. Fizemos em 10,7 segundos – um pouco acima dos 9,9 segundos divulgados pela Ram, mas melhor que os 10,9 segundos do modelo anterior, segundo a montadora, porém números esses que podem aumentar com os testes reais.
A Ram também deu um trato no sistema eletrônico da Rampage 2.2, ajustando a programação para tirar mais proveito do conjunto. A transmissão ganhou somente uma calibração e um novo conversor de torque para trabalharem mais afinados. A Rampage também tem reduzida, que por sinal, não é uma caixa dedicada como em picapes maiores – na verdade, é a primeira marcha encurtada para encarar situações off-road, ou seja, um truque simples que cumpre o papel.
A suspensão da Rampage 2.2 segue com McPherson na frente e multilink atrás, entregando o conforto que já conhecemos. É suficientemente firme, o que dá segurança em curvas , mesmo as mais fechadas, com pouca dobragem da carroceria. A resposta do volante também é boa, já que aponta bem, passa confiança e tem uma direção comunicativa. Na cidade, a calibração traz maciez sem ser mole, enfrentando buracos e solavancos com boa absorção de impactos.
No consumo, a picape fez 8,4 km/l na cidade em São Paulo com nosso pé, mas no anda e para caiu em 6,8 km/l. Na estrada, chegou a 14,5 km/l, um número sólido pro tanque de 60 litros. O Inmetro marca 10,6 km/l no urbano e 13,3 km/l no rodoviário.
Os freios a disco nas quatro rodas seguram bem o conjunto. Nas frenagens, a frente não empina, e a parada é firme. O isolamento acústico também é bom: quase não se ouve barulho de rodagem ou vento, deixando a cabine silenciosa mesmo em alta velocidade.
Em um trecho de terra que pegamos, a Rampage não fraquejou. Encarou os obstáculos sem esforço, com o motor mantendo rotações altas e força de sobra – isso sem carga na caçamba. O terreno acidentado não foi páreo pro torque do 2.2.
RESTO PERMANECE O QUE JÁ CONHECEMOS
Por fim, o resto permanece o que já conhecemos. Ela mede 5,02 metros de comprimento, 1,88 de largura, 1,78 de altura e tem 2,99 metros de entre-eixos. No espaço traseiro, com 1,88 m de altura e o banco ajustado para mim, sentar atrás ficou inviável, o joelho não cabe, a porta nem fecha. Para quem precisa levar gente atrás, não é dos melhores, mas nada que alguém menor dirigindo não resolva, talvez.
Na frente, a ergonomia agrada. O console central alto deixa tudo à mão, com comandos físicos perto, botões da climatização bem perto, mas tantos botões podem confundir. A posição de dirigir é alta, mesmo com o banco ajustado o mais baixo, típico de picape, e dá boa visibilidade apesar dos vidros pequenos. O volante se ajusta bem em altura e profundidade, mas a alavanca de seta é um fiasco: frágil, imprecisa, e às vezes aciona o farol alto sem querer na hora de por seta.
O acabamento mistura altos e baixos. O tabelier e painel em soft touch e as partes superiores das portas, acolchoadas, passam qualidade. Mas onde o plástico aparece, decepciona. O terceiro raio do volante range ao apertar, o console central faz barulho se você apoia o braço com força, e a parte de baixo tem rebarbas que arranham a mão. Testamos uma unidade com 4 mil km, e esses detalhes incomodam pra um carro desse preço.
EQUIPAMENTOS
Nos equipamentos, tudo igual à versão anterior. O painel digital de 10,3 polegadas é fácil de mexer. A multimídia de 12,3 polegadas roda Apple CarPlay e Android Auto sem fio, responde rápido e é intuitiva. Vem com chave presencial, Start-Stop, ar dual zone, freio eletrônico com auto-hold, assistente de descida, ABS, faróis em LED com regulagem e DRL, vidros e travas elétricas, sensores de estacionamento dianteiro e traseiro, câmera traseira, bancos elétricos pro motorista e passageiro, rodas de liga leve, borboletas no volante, som Harman Kardon com graves potentes e acionamento remoto do motor.
Na segurança, tem alerta de ponto cego, alerta de tráfego cruzado, assistente de mudança de faixa com centralização, monitoramento de pneus, piloto automático adaptativo com Stop and Go, frenagem de emergência e assistente de faixa. O piloto automático funciona bem, sem freadas bruscas, e o assistente de faixa mantém o carro no trilho com suavidade.
A Rampage também inclui sete airbags (dois frontais, dois laterais, dois de cortina e um de joelho para o motorista). As cores disponíveis são a Vermelho Flame, Preto Diamond, Azul Patriot e Prata Billet Maximum Steel.
RESUMO DA ÓPERA
A Ram Rampage 2.2 TD ganhou vida com o novo motor. Tem mais fôlego e economia que o 2.0 antigo, atualização que a Stellantis acertou em cheio. Boa resposta na cidade e estrada e conforto, além do bom pacote de equipamentos impressos. Mas o preço de R$ 278.990 pesa.
Para uma picape compacta/média, é um preço que dá para comprar uma picape média a diesel, como uma Ford Ranger Black 4x2 por R$ 238.900. Caso seja necessário tração 4x4, há ainda a Nissan Frontier Attack 4X4 (190 cv) por R$ 273.290 ou a Mitsubishi Triton GLS 4x4 (191 cv), R$ 265.990, custam parecido e entrega torque próximo. A Rampage brilha nos mimos, mas cobra caro por isso.
Quem não precisa de tanto tem a Big Horn, versão de entrada a R$ 237.990. Perde bancos de couro, ajustes elétricos e alguns assistentes, mas mantém o essencial. No fim, a Rampage 2.2 faz o papel dela bem, sobretudo para quem quer diesel sem uma picape média.
Ficha técnica: Ram Rampage 2.2 turbodiesel
Motor: Diant., longitud., quatro cilindros em linha, 2.2, turbo, diesel |
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Potência: 200 cv a 3.000 rpm |
Torque: 45,9 kgfm a 1.500 rpm |
Câmbio: automático, nove marchas, tração 4x4 |
0 a 100 km/h: 9,9 segundos (Ram) 10,7 segundos (VRUM) |
Consumo, segundo Inmetro: 10,6 km/l (urbano) e 13,3 km/l (rodoviário); (VRUM) 8,4 km/l e 14,5 km/l, respectivamente |
Direção: elétrica progressiva |
Freios: discos ventilados (diant. e tras.) |
Suspensão: McPherson (dianteiro) e multilink (traseiro) |
Pneus: 235/65 R17 |
Caçamba: 980 litros |
Capacidade de carga: 1.015 kg (Ram) |
Ângulo de entrada: 25,8° |
Ângulo central: 23,4° |
Ângulo de saída: 27,5° |
Tanque: 60 litros |
Peso: 1.951 kg |
DIMENSÕES |
Comprimento: 5,02 metros |
Largura: 1,88 m |
Altura: 1,78 m |
Entre-eixos: 2,99 m |
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